Ricardo V. Malafaia 11/set/2017
No início da década de 80, Carl Sagan, um astrônomo norte-americano, encantou o mundo com a série Cosmos, criada para a TV. Num de seus capítulos, mediante uma inovadora didática, apresentava a evolução do universo através de um hipotético ano cósmico. O Big Bang, uma grande explosão que teria criado o espaço e o tempo segundo teoria ainda não totalmente comprovada, em parte baseada em outra teoria, a da Relatividade Geral proposta por Albert Einstein, aconteceria em 1º de janeiro daquele ano, marcando o início desta cronologia. Seu verdadeiro propósito era chamar a atenção para o seguinte fato: o registro escrito da história humana ocuparia “apenas” os últimos 10 segundos do dia 31 de dezembro deste calendário cósmico!
Na escola, somos, em algum momento, apresentados ao conceito de Cidadania. Mas, por qual motivo esta ideia não se sedimenta dentro de nós? Na verdade, a criança é diariamente bombardeada por diversas imagens, de origens difusas, que frontalmente conflitam com essa concepção. Se ela aprende que os carros devem parar no sinal vermelho, mas, logo depois, na volta para casa, depara-se com um ônibus avançando impunemente o sinal, aquele conceito aprendido horas mais cedo cai irremediavelmente por terra.
O que é cidadania? Cidadania nada mais é do que o exercício pleno de direitos e obrigações de um indivíduo. Contudo, a nossa efetiva noção desse conceito está imensuravelmente distante daquele praticado em países culturalmente desenvolvidos. Por essas bandas, por exemplo, a rua deve ser cuidada exclusivamente pelo Estado. Entretanto, lá fora, todos os cidadãos são corresponsáveis, começando pelas crianças. Essa noção é passada de pai para filho, de geração para geração, de forma extremamente natural.
Hoje em dia, as inúmeras notícias que nos chegam cotidianamente a respeito do que acontece em nosso país e em nossas cidades, são, na sua grande maioria, estarrecedoras. Sentimentos como medo, desilusão ou incerteza vão tomando conta de cada um de nós. E, entre tantas outras questões, invariavelmente, duas são recorrentes. Tem solução? E, se houver, ainda estaremos vivos para desfrutá-la? Mas há uma outra que raramente nos permitimos conceber. O que eu posso fazer para ajudar?
Como vimos no início, nossa passagem por estas veredas é extremamente breve. Representa um instante infinitesimal diante do todo. Em virtude desta inexorável realidade, não caberia um questionamento mais profundo, a respeito de como cada um de nós gostaria de marcar a caminhada por aqui?
Frente, então, aos atuais problemas que não param de surgir em nosso quintal, quais são as opções que temos diante de nós? Muitas vezes, somos sequestrados pelo sentimento da impotência. E essa sensação geralmente é fruto do desconhecimento de que cada um de nós tem, hoje em dia, inúmeras formas de fazer a diferença na coletividade. Não temos tantas plataformas digitais ao nosso dispor? Busquemos! Pesquisemos! Cabe, pois, a cada indivíduo, se efetivamente quiser, encontrar a sua forma de fazer a diferença. Não duvide! Ela existe, e está à espera de quem queira agir nesta direção!
Outro sentimento recorrente é a desilusão, para quem outrora já confiou em dias melhores, ou o opaco ceticismo, para quem nunca acreditou em quaisquer mudanças. Contudo, reflitamos um pouco! Pela primeira vez, criminosos “de colarinho branco” não estão sendo presos? Políticos graúdos não estão sendo implacavelmente desmascarados? Com efeito, entre os escombros de nosso passado, podemos resgatar situações similares? Certamente que não! Então, talvez estejamos vivendo, finalmente, e de forma inédita, um novo amanhecer em nossa, até então, permissiva história.
Outra opção é radicalizar, mudando-se para o exterior, definitivamente, de mala e cuia. Já foi o momento de Miami, Austrália, Canadá… Agora a bola da vez é Portugal, ora pois! Mas se todos seguirem esse caminho, comprando passagem só de ida, que o último apague a luz!
Ou pode se transferir provisoriamente, não para conhecer outras culturas, ou pra estudar em universidades mais qualificadas, e retornar posteriormente agregando novos conhecimentos e fazendo a diferença em nossa sociedade, mas sim para unicamente fugir dos atuais problemas, e aguardar em segurança que outros os resolvam por eles. Posteriormente, então, quando melhores ventos por aqui soprarem, retornar. Fácil não?
Mas não foi há três ou quatro anos que o Brasil era o país do momento? O gigante não tinha acordado e se levantado? Não estavam muitos estrangeiros, na ocasião, mudando-se para cá, seduzidos pelo robusto crescimento em terras tropicais? Até onde, então, vai a volatilidade de nossas expectativas quanto ao nosso futuro? Somos meros espectadores neste palco onde o destino de nossa nação está sendo encenado? Ou podemos ser atores influentes neste processo?
Quando temos um problema familiar ou no trabalho, devemos ignorá-lo? Ou nos mudar? Ou nos resignar? Ou, ao contrário, devemos, de forma efetiva, buscar as devidas soluções? E por qual motivo, diante de todas as mazelas que se apresentam em nossa sociedade, devemos nos omitir? Precisamos de uma vez por todas entender que fazemos parte de uma nação! De fato, cada um de nós tem uma função social e cívica específica dentro dela. Por isto, não podemos virar as costas a essa responsabilidade!
De que adianta nos postarmos atrás dos muros da desilusão, das trincheiras da resignação, do esconderijo do ceticismo ou do conforto da distância? Não podemos deixar que o nosso individualismo nos enrijeça, que o comodismo nos imobilize, que o medo nos paralise, que a indiferença nos modifique. A hora de exercer a nossa cidadania é essa. Nunca houve momento mais oportuno!
Olá Ricardo, não precisei de muitos minutos para analisar esse seu texto, concordo plenamente com tudo, mais eu sei também que muitos que estão abandonando o (barco) na verdade estão mesmo abandonando o medo de perder suas vidas e as dos seus filhos, porque à verdade que a maior crise que vivemos não é só a crise política e econômica , mas sim a desigualdade, onde muitos fecharam os olhos durante muitos anos para as crianças que com idade de cinco anos já estavam nas ruas se drogando e pedindo esmolas , hoje essas crianças cresceram e de alguma maneira ficaram mais (fortes ) ao ponto de expulsar muitos brasileiros ricos e bem informados , do próprio país . Lutemos por igualdade de forma que possamos acreditar que uma boa política , uma boa economia e um bom governo será sempre aquele que tenta educar seus cidadãos a respeitar e ajudar os que precisam, não com pão , mas sim com educação. Acreditarei no meu país , mas no dia que uma nova geração cresça com uma outra educação 🙏🏽
Seu texto é uma grande injeção de ânimo para todos aqueles que estão descrentes com os últimos acontecimentos.
Concordo que temos que força para perseverar na busca de uma solução para o nosso país. Espero que após chegarmos no fundo do poço , os verdadeiros brasileiros se unam para colocar o povo brasileiro no lugar que merece. Parabéns!
Muito bem escrito e desenvolvido. Como conceituar e praticar a cidadania numa sociedade como a nossa.. ? Em “cidades partidas”, em vivências diferentes de democracia, de acessos e oportunidades, (des)respeito à dignidade e de efetividade de direitos… Onde há um predominante pensamento social de distância equivocada, na minha opinião, entre o público e o privado, o Estado e a sociedade. Bem difícil mesmo… Mas, ainda tenho esperança em dias melhores, vibrando pra que a empatia, os debates e a noção de viver em sociedade prevaleçam
Digo,alcançarmos
O momento agora não é para abandonar o barco,temos que JUNTOS remar para alcançar o nosso destino.
Excelente Ricardo.
Quem faz o país é o seu povo.
Estamos atravessando uma crise moral e de valores.
O resgate e a prática das virtudes não é tarefa fácil, mas é possível.
Espero para ver.
“Eu, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” Precisamos não só cantar, e sim botar em prática. Se cada um fizer a sua parte, viveremos em um Brasil muito melhor.
O seu otimismo foi tão contundente, que me contagiou…
Continue assim!!!
Precisamos de um Brasil melhor! Parabéns ao Ricardo!