Ricardo V. Malafaia 03/dez/2017
Um dos temas mais polêmicos de nossa era, o aborto divide opiniões que passam longe da consonância. E, de fato, não poderia ser diferente. Afinal, muita coisa está em jogo. De um lado, estão aqueles que defendem que a liberdade da mulher para decidir sobre o seu próprio corpo prevalece sobre o direito à vida do feto. Do outro, estão aqueles que pensam exatamente o contrário. É o antagonismo exposto numa de suas faces mais irreconciliáveis!
Embora controverso, este blog não se furta a se posicionar sobre esse assunto. O rio para correr precisa que a chuva aconteça. O solo para aquecer precisa que o sol amanheça. As ondas para quebrarem precisam que o vento e as correntes se façam. A razão para haver precisa que a lucidez esclareça. Da mesma forma, o direito à liberdade para acontecer precisa que o direito à vida prevaleça.
A consequência só pode vir depois da causa. A natureza não se perde em pensamentos e egoísmos. Ela acontece porque sempre assim procedeu. O homem, ao interpretar a vida conforme a sua própria conveniência, mete os pés pelas mãos, invertendo o que não deve ser invertido. Por isto a natureza é sábia e o homem definitivamente não!
Diversos são os argumentos daqueles que defendem a prática do aborto. Que a mulher precisa ter direito ao seu próprio corpo. Que o aborto clandestino é problema de saúde pública, e de fato é. Que um feto não é uma pessoa, por isso não pode ter os mesmos direitos. Na verdade, podemos observar que estes e quaisquer outros argumentos sequer tangenciam, em nenhum momento, o interesse e o direito de uma vida, pequenina, que não foi chamada a se manifestar.
Todo o ser humano tem direito de tomar decisões sobre a sua própria vida. Este direito é claro e não está em discussão. O ponto é: a vida que uma mãe carrega em seu ventre, seja ela indesejada por questões sociais ou financeiras, ou fruto de violência sexual, ou portadora de deficiência, pertence a quem? Quem é o dono ou a dona desta vida para ter o poder de decidir quem vive, quem morre?
O 3º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. A partir deste direito universal, resta-se definir em que momento a vida começa. Pois, a partir deste início, ninguém, sob quaisquer argumentos, poderá lançar mão de sua posse. Da posse da vida de outra pessoa. Como um deus. Ou deusa.
Na comunidade científica, a unanimidade passa longe quando o assunto é a definição do exato momento quando a vida acontece. Há quem defenda que ocorre na 3ª semana de gestação. Ou na 8ª. Ou na 20ª. E há aqueles que sustentam que ocorre na fecundação. O certo, verdadeiramente, é que há apenas dois momentos definitivos. A fecundação e o nascimento.
Mas se a prematuridade ocorre com frequência, como escolher um momento para interromper uma gravidez? Com que autoridade cientifica pessoal uma mãe pode interromper uma gestação, se provavelmente há vida dentro dela? Segundo a própria Biologia, o feto é evidentemente humano. O único outro momento definitivo que resiste, então, a qualquer tipo de julgamento, é o da fecundação. E é em sua direção que as pesquisas científicas caminham. E é aonde a religião já chegou faz tempo!
Num mundo extremamente conectado, as pessoas são constantemente bombardeadas com milhares de informações. Querendo ou não, acabam sendo intencionalmente influenciadas, muitas vezes, sem perceber. E, muito do que repetem depois, assim o fazem sem ao menos refletir.
A partir de uma ponderação superficial, outros posicionamentos são também estabelecidos. Frequentemente, por exemplo, pontos de vista são manifestados por muitos, apenas para estarem ideologicamente alinhados com as suas “tribos”. Este processo não acontece somente quando o assunto é o aborto. Sobre diversos outros temas, o automático alinhamento ideológico, de forma inconsciente, promove uma repetição de conceitos pré-programados por terceiros. Em última análise, no campo sociocultural, poucos têm controle sobre muitos, sem que estes últimos se deem conta disso.
A falta de reflexão é tão evidente que contradições ficam expostas à luz de uma rápida análise. Grande parte dos que defendem a prática do aborto, também defendem, com veemência, o esgotamento de todas as etapas de defesa para criminosos em liberdade. Ou seja, para bandido, tudo. Para o feto, nada. Nem a própria vida! Não é uma linha de pensamento um tanto estranha?
Numa época onde o egoísmo tem sido cultivado por quase todos os agentes, o aborto aparece como a sua forma mais eloquente. A cultura do “primeiro eu, depois também” tem produzido fossos econômicos, sociais e emocionais difíceis de serem reparados. A sociedade, para prosseguir, está precisando, na verdade, de menos egoísmo e de mais amor. E, evidentemente, o aborto está ligado apenas ao primeiro. Uma pena que tantos o defendam! O que será de nós, diante de tantos descaminhos, sem amor e sem altruísmo?
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A polêmica é saudável pois gera debate. E o debate, a evolução. Melhor ainda quando acontece em alto nível. Como tem ocorrido aqui. Obrigado Cláudia.
Assunto polêmico. Discordamos nesta questão. Sou a favor do aborto.