O maior enigma da evolução humana

Ricardo V. Malafaia     23/dezembro/2018

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Em algum momento de nossas vidas imergimos no mar do existencialismo e de lá retornamos com questões racionais que insistem em flutuar além de nossa vã compreensão. “De onde viemos?”, “Para onde vamos?” ou “Por que estamos aqui?” são algumas indagações que atravessam eras sem respostas. E possivelmente assim para sempre continuarão. Contudo, não necessariamente a mais importante, mas certamente a mais urgente questão é entender apenas como fazer essa travessia. Sim, a humanidade de fato caminha. Mas aos trancos e barrancos. E evidentemente em círculos.

Se fosse possível voltar no tempo, talvez não precisássemos ir até Galápagos para encontrar Darwin. Muito mais perto, segundo seu próprio diário, entre um banho de mar na praia de Botafogo e uma caminhada na Floresta da Tijuca poderíamos esbarrar com o jovem cientista inglês. E tentar entender por que a teoria que viria a formular anos mais tarde traria respostas para quase todas as questões evolutivas, menos para uma.

O processo da seleção natural demonstra que quem sobrevive não é necessariamente o mais forte, e sim o mais apto. E se isso funciona para a evolução das espécies, por que não haveria de atuar no aperfeiçoamento dos princípios que norteiam as relações humanas?

Colocados à prova ao longo dos séculos, lamentavelmente estes mesmos princípios não evoluíram de forma seletiva. Tampouco os mais nobres deles prevaleceram sobre os demais. Se o evolucionismo corresse nas veias da humanidade, distinguir o certo do errado seria tão natural como diferenciar o dia da noite.

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Os mais idosos hoje em dia relembram saudosamente o tempo em que caminhar à noite na rua não era uma aventura radical. Entretanto estas mesmas gerações causaram duas guerras mundiais, destruíram duas cidades com armas nucleares, fizeram um holocausto e mais alguns genocídios. Tanta barbárie condensada apenas na primeira metade do século passado escancara quão perdida a humanidade já se encontrava na ocasião.

De lá para cá, a revolução tecnológica, cuja aceleração aumenta a cada instante, tem intensificado a confusão na qual a nossa espécie encontra-se. Como um carro de Fórmula 1 que, ao acelerar, cria um vácuo (zona de baixa pressão) atrás de si, o avanço tecnológico, ao se deslocar em alta velocidade afastando-se rapidamente da compreensão humana, cria um verdadeiro abismo entre as duas realidades. Resumindo, o que já era obscuro há algumas décadas torna-se desastroso. O ser humano nos dias de hoje está mais perdido que barata em salão de baile.

Vivemos num mundo onde o embate entre a Esquerda e a Direita entorpeceu a visão humana. E onde o egoísmo deu um mata-leão no altruísmo. As lutas por ideologias e pela manutenção de privilégios tornaram-se os centros das discussões, quando as grandes estrelas deveriam ser o bem comum e o amor ao próximo.

Em pleno século XXI, a humanidade luta pelo aborto, pela ideologização dos jovens, pela desagregação familiar, pelo ateísmo, pelo culto ao hedonismo e pela impunidade. Da mesma forma, defende a restrição contra refugiados, ilude-se com a liberação da venda de armas e desconhece a condição social como catalisadora da violência. Esquerda e Direita, os dois cavaleiros do Apocalipse, cavalgando juntos, em direção ao precipício.

Hoje tudo é rápido. No clicar do controle muda-se uma relação. E algumas gerações inteiras de jovens não aprendem a respeitar, pois não são respeitados. Jovens e adultos batendo cabeças. Debruçam-se sobre as mídias sociais na esperança de serem ouvidos. Pena não perceberem que a principal comunicação é consigo próprio. E com a sua própria fé, para aqueles que ainda as têm.

A velocidade e o egoísmo contemporâneos exacerbam a intolerância inata do ser humano. Pensa-se que o mundo começa e termina no seu próprio umbigo. E que o seu modo de ver a vida deve prevalecer sobre o do próximo. Na verdade, o ser humano é brilhante na sua capacidade de se recusar a ver com a retina alheia.

A ciência tornou-se extremamente avançada nas diversas áreas devido à superposição dos conhecimentos humanos e descobertas século a século. O que não se comprovava era descartado. O que se confirmava alavancava novos desafios. E assim caminhou a ciência, desde a época pré-histórica. Pedra sobre pedra. Um sucesso! Só que não, pois a Filosofia deu água.

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E este é o maior enigma da evolução humana! Como, após milênios de estrada, o ser humano não aprendeu a distinguir o certo do errado? Não entendeu que o bem deve prevalecer sobre o mal. Não percebeu que o respeito começa pelo estranho, e não por seu par. Não aceitou que o diferente é tão importante quanto o igual. Não alcançou que o caminho a seguir não é o mais fácil, mas o que deve ser verdadeiramente trilhado.

O homem falha em dar as respostas de que precisa. Talvez não compreenda que sua inteligência e sabedoria não sejam suficientes diante de tal desafio. Talvez, através de um rasgo raro de humildade, aceite que precise de ajuda. De ajuda de Quem sempre esteve à disposição. Talvez!

 

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3 comentários

  1. Uma análise muito bem postada de nossa sociedade e de nossos rumos.

  2. A solução é conhecida à milenios , difícil segui- la. Respeito ao próximo . Ama o outro como a ti mesmo !

  3. Brilhante análise da evolução humana. Parece que quanto mais a gente evolui, mais nos embrutecemos. Parabéns pela descrição do nosso enredo.
    Será evolução ou involução?

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