Massacre em Suzano, Marielle, Mídia e Sociedade

Ricardo V. Malafaia     17/março/2019

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Se um Ovni aterrissasse hoje neste mundo e seus ocupantes tivessem o objetivo de estudar a lógica, a sensatez, o respeito e a coerência humana, provavelmente abortariam a missão num reduzidíssimo espaço de tempo terrestre. E ao retornar ao seu planeta, em função das pífias análises aqui colhidas, informariam aos seus superiores que sequer o combustível gasto, seja ele qual fosse, não teria valido a pena!

É surpreendente a inesgotável capacidade que a mídia, que os “especialistas”, que as lideranças políticas e que parte da sociedade têm para expor opiniões sobre temas tão graves sem a mínima preocupação em dar considerável peso à responsabilidade, ao bom senso e à reflexão. Preferem enclausurar-se nas limitações das emoções e nas grades das ideologias. De forma implacável, quanto mais surfamos na desinformação e na análise rasa, mais nos afastamos de efetivas soluções!

Nesta semana a morte de Marielle completou um ano, um massacre ocorreu em Suzano, e, do outro lado do mundo, mais de cinquenta muçulmanos foram impiedosamente assassinados. Apesar da brutalidade que envolve todos estes fatos, grande parte das manifestações a respeito não passam de meras reafirmações de seus próprios pontos de vista.

Perigosamente, o mundo está abrindo mão da capacidade de refletir, condicionando-se apenas a reagir. Em consequência, pontos de vista acabam sendo substituídos por alinhamentos ideológicos ou sociais. Sem percebermos, permitimos que a independência individual ceda à tendência do coletivo. E diante de qualquer rebeldia, a patrulha enquadra o insurgente como um cão pastor faz com uma ovelha que desgarra.

Na verdade, a tendência da sociedade para apenas reagir a qualquer fato ao invés de refletir não é espontânea. É intencional. E estratégica. Há grupos poderosos dos mais variados espectros ideológicos ou com os mais diversos interesses, seja de poder, seja financeiro, que se assemelham em apenas um aspecto: seus objetivos serão mais facilmente alcançados quanto menor for a capacidade que a sociedade tiver para reflexão. Se adotar “pão e circo” não é mais possível, dividir e radicalizar para reinar, ou retornar ao reino, é a estratégia da vez.

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Mesmo tendo sido assassinada há um ano, Marielle está presente na mídia até hoje, diferentemente de tantos outros milhares de crimes que são esquecidos de um dia para outro. Para uma parte da sociedade, a vereadora foi vítima da opressão contra as minorias e por isso tornou-se um símbolo. Para outra parte, a sua vida não tem peso maior do que outras e por isso enxerga essa cobertura como excesso e entende como tática de vitimização da esquerda.

Falando claro, é uma viagem ficar repetindo o mantra que a Marielle foi morta por ser “mulher, negra, LGBT e pobre”. E que esta violência pode ser definida como um crime de ódio. Besteira! Quem matou a vereadora foi um assassino de aluguel, o qual teria recebido cem mil reais pelo serviço. Ora, não é difícil concluir que os mandantes, provavelmente políticos e milicianos, percebiam nela um obstáculo aos seus interesses. O resto é conversa fiada!

Contudo é fundamental que a investigação vá até o fim. E que os mandantes deste assassinato sejam identificados e condenados. Num estado onde, durante muito tempo, o desgoverno governou, o tráfico e a milícia proliferaram. Mas se no primeiro sabemos quem é o mocinho e quem é o bandido, no segundo só se for no “cara ou coroa”. Por isso a milícia não é ruim, ela é péssima.

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Em qualquer país sério, um assassinato de agente público merece uma reação rápida e contundente. Que não se repita o que ocorreu com a morte de Celso Daniel. Quem mandou matá-lo? E por quê? E a facada em Bolsonaro, houve mandante? A morte de um agente público ameaça a Democracia, seja ele quem for. Não, a vida de Marielle não vale mais do que qualquer outra. Mas deve ser investigada para que não se repita.

O massacre de Suzano trouxe de volta a discussão da posse e do porte de armas. Ideias como armar o professor ou até o faxineiro são estapafúrdias. Se fosse aprovada tal genialidade, o mestre seria o primeiro a ser assassinado, alvejado de costas quando estivesse escrevendo no quadro. Infelizmente importamos o que não podia ser importado.

Aprendemos que é melhor prevenir do que remediar. Realengo foi o primeiro massacre em escola no país. Suzano o segundo. E lamentavelmente outros virão. Remediar esta situação é quase impossível, pela variedade de possibilidades. Pessoas perturbadas e ruins existem, e não são poucas. Dependendo do seu entorno, porém, o gatilho da loucura pode ou não ser ativado. A prevenção, nestes casos, impõe-se como prioritária. E a família é o principal elemento desta prevenção. Mesmo para estes potenciais assassinos, a família ainda pode funcionar como uma cerca de lucidez.

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O terrorista que praticou o massacre na Nova Zelândia, ao ser preso, citou o Brasil como exemplo negativo devido à sua miscigenação. Contudo o que esse monstro enxerga como fraqueza, é de fato a nossa maior virtude. Foi exatamente esta nossa diversidade racial, cultural e religiosa a grande força responsável por fazer com que o país tivesse o maior crescimento entre todos no século XX.

Entender e analisar cada acontecimento abrindo mão da capacidade de questionar e refletir é desconhecer a sua própria autonomia. Razão, coerência e consciência caminham sempre juntas. Ideologias foram outrora desenvolvidas para servir ao homem, e não o contrário. Talvez tenha chegado o momento de perceber que elas não mais nos servem. Ou criar uma nova, através da qual a independência, a lógica, a sensatez e o respeito ao próximo formem a sua linha mestre.

 

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3 comentários

  1. Às vezes tenho a impressão que o mundo está de cabeça pra baixo, que tudo está errado, tendo em vista o cenário político e econômico que estamos vivendo, e a sucessão de tantas tragédias em um curto espaço de tempo. Mas não podemos desanimar. Precisamos fazer nossa parte, fazer um pouco mais do que está ao nosso alcance, sair da zona de conforto, fazer a diferença. Buscar um mundo melhor e mais justo!

  2. Muito triste tudo isso que vem acontecendo com a humanidade!! Política a parte, acho q está faltando como vc disse no seu texto, maior participação da família na vida desses jovens de hoje, faltando mais amor, respeito e diálogo entre as pessoas!! Abraço, Ricardo!

  3. Concordo que a única esperança é a família- que é a base e estrutura de tudo. Amor, compreensão, união da família é fundamental para termos um mundo melhor.

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