Radicalismos

Ricardo V. Malafaia     02/junho/2019

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Diz-se que todo radicalismo é nocivo, pois passa a ideia de intransigência, independente do assunto sobre o qual se relaciona. Essa crítica procede, mas… Pode haver casos em que não! Radicalismo é, em outras palavras, caminhar em direção a uma raiz. E se a raiz for boa, correta e íntegra, será esta caminhada passível de contestação? Se esta raiz for verdadeira, o caminho em sua direção não poderá ser em linha reta, melhor forma de se chegar a ela, sem precisar fazer concessões que fugiriam à sua essência?

Na verdade, a quase todos os radicalismos que costumamos assistir no dia a dia, independente das áreas com as quais se relacionam, são realmente passíveis de condenação. Mas ao contrário do que pensamos, os erros relacionados aos excessos manifestados durante a condução da defesa de algo está menos ligada à forma e mais ao próprio conteúdo.

Diferentemente do radicalismo, o extremismo assume quando a pouca razão cede de vez à completa cegueira a condução das ações. Os grupos de ultradireita americanos e europeus que pregam superioridade racial e étnica ou os movimentos muçulmanos que se baseiam no fundamentalismo islâmico, subjulgando as garantias mais básicas da mulher, chocam-se frontalmente com os direitos fundamentais do ser humano. Se a razão e a ignorância fossem constantes matemáticas, relacionar-se-iam sempre de maneira inversamente proporcional, seja qual fosse a equação.

Fugindo dos extremismos, enlaçados em nosso cotidiano, há muitos radicalismos que são tolerados por diferentes segmentos de nossa própria sociedade. O espectro é grande e passeia agilmente por todos os naipes de ideologias, migrando de um extremo ao outro com plena desenvoltura. Por incrível que pareça, o radicalismo é democrático, pois não fecha exclusividade, por exemplo, nem com a Direita e nem com a Esquerda.

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A ignorância é aparente e enganosamente libertadora, pois libera quem quer que seja para trilhar o caminho que escolher sem precisar desenvolver sentimento de culpa e nem noção de inconsequência. Diante da exposição das razões que fazem a defesa de situações não pararem em pé, como se os pilares que as sustentam fossem erguidos com uma mistura de razão, bom senso e ética, a sociedade tragicamente se divide. É duro reconhecer que, mesmo após alguns milhares de anos de civilização, para muitos a ignorância é uma verdadeira “benção”.

Não termina um dia sequer que não tenhamos sido bombardeados com inúmeros radicalismos desprovidos de essência. Lutar pelo aborto para salvaguardar a conveniência e o egoísmo de quem quer que seja; dar porte de armas para cidadão comum escudando-se na falsa ideia de aumento de proteção individual; defender e idolatrar qualquer político mesmo diante de inúmeras provas e diversos julgamentos condenando-o a anos de reclusão.

Ou desprezar a importância que o zelo pelo meio ambiente lega às gerações futuras uma melhor qualidade de vida; dar apoio à confusão criada na cabecinha de crianças ao receberem a orientação que elas mesmas devem escolher o seu próprio sexo; tolerar que professores apresentem em escolas e universidades públicas apenas uma única ideologia como melhor condutora da felicidade humana não dando condições para que os seus alunos façam as suas próprias escolhas.

Percebe-se que o radicalismo desprovido de razão e inteligência é efetivamente democrático. Atinge a todos os polos, não reconhecendo suas diferenças de origem. Por quê? Porque o obscurantismo e a cegueira não conhecem faces. Introduzem-se na mente humana sem pedir licença, desligando a chave do bom senso e da própria razão. Seu modus operandi é disfarçar-se de solução. A sua dissimulação geralmente é mais efetiva que a racionalidade humana.

Entretanto há radicalismos que são saudáveis. Quando, após sofrer algum trauma, um determinado indivíduo dá uma guinada completa em seus próprios hábitos, tornando-os muito mais saudáveis, fica evidente que estaremos diante de um caso onde o radicalismo pode ser muito positivo. Radicalizar pode ser um ato de inteligência.

Clausura Religiosa - Carmelo Nossa Senhora do Carmo

Neste exato momento, há milhares de seres humanos que se dedicam exclusivamente a rezar em clausura pela humanidade, como é o caso de inúmeros religiosos católicos. Ou meditar pela mesma humanidade, como é o caso de diversos monges budistas. São pessoas especiais que abdicaram de uma vida como a que conhecemos em prol de uma vocação para apenas servir ao próximo de forma contemplativa. São como para-raios do mundo! Radicalizar pode ser um ato de fé.

O que difere os tipos de radicalismos não é a sua forma. É a sua essência. Se a força que move essa atitude é baseada em homens ou em ideias por eles formuladas, fatalmente estaremos diante de ações ou sistemas negativos que terão consequências ruins para a sociedade. O homem, em virtude de sua natureza falha e pequena, jamais poderá construir, promover ou se colocar como centro de nada. Neste ambiente, o radicalismo é nefasto! Simples assim.

Contudo, quando o radicalismo move-se na direção da essência, do que transcende, daquilo que gera apenas virtudes, esse caminho poderá ser trilhado. Quando poucos têm a coragem para radicalizar nesta direção e de buscar a verdade atemporal, constroem de fato faróis que podem ajudar a iluminar o caminho para a maioria de nós.

 

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Um comentário

  1. A humanidade sempre foi e será iluminada para assuntos de questão temporal e cega para questão de introspecção e reflexão. Assim Caminha a humanidade, parabéns.

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