Ricardo V. Malafaia 14/julho/2019
Uma pena, o seu desaparecimento. Apesar da intensificação das buscas, não são boas as chances de encontrá-la. Uma terrível perda, pois sua ausência tem permitido que uma infinidade de posicionamentos, de lado a lado, nasça na vã emoção e termine na clausura da “bitolação”. Não se sabe, porém, se a sensatez foi assassinada pela raivosa ignorância ou se caiu no mundo preferindo a solidão ao ostracismo.
Assistimos todos os dias a um show de análises torcidas e distorcidas. E não apenas de boa parte da sociedade. Mas também de personalidades e jornalistas conhecidos e deformadores de opiniões. Alinhados a certos interesses, traídos por suas próprias limitações ou reféns de questões meramente pessoais, discorrem sem pudor suas posições trôpegas e fragmentadas, misturando fatos a falsos e empurrando mais para a ponta quem já estava nela.
No artigo anterior, Alguém viu a sensatez por aí?, discutimos como a razão tem sido atropelada em debates sobre temas como meio ambiente, demarcação de terras indígenas, porte de armas, educação, Sergio Moro e Lava Jato. Contudo, como a irracionalidade tem um alcance a perder de vista, vale caminhar um pouco mais adiante. Quem sabe descubramos que a insensatez é esférica e que nunca encontraremos a sua borda final?
Nesta semana, a Reforma da Previdência deu um grande passo à frente. Embora já traga um consistente apoio, ainda há aqueles que a combatem com ardor e fervor. Entre um delírio aqui e uma mentirinha ali, fingem não entender que a expectativa de vida aumentou um pouquinho. Somente algo em torno de trinta anos. Agredindo as quatro operações básicas da Matemática, negam o descompasso de uma conta rudimentar que só fechará se todos tornarem-se uma espécie de Benjamin Button.
Quando foi decretada a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, muitos bradaram que os direitos dos mais pobres seriam violados. Não foram! E mais, todos os índices de criminalidade pararam de subir e ainda tiveram alguma queda. Em 2019, os registros de violência no Estado continuam caindo. Apesar de haver ainda muita violência, a sensação de insegurança começou a dar meia volta.
Com as medidas implementadas pelo novo Governo Federal, para baixo também estão indo muitos índices de criminalidade, como mostra a queda de 22% no número de homicídios no território nacional. Há muito a fazer, mas, pela primeira vez em muitos anos, ações de inteligência coordenadas e integradas acontecem entre os principais agentes de segurança. E quando a razão e a competência unem-se, a sociedade ganha. Pena aqueles críticos preferirem à mea-culpa uma boa dose de cara de paisagem.
Durante as eleições, estes mesmos críticos juraram de pés juntos que o “fascista” Bolsonaro agrediria a Democracia. Hoje, vemos que, como pitonisa, morreriam de fome! Afinal o Congresso tornou-se verdadeiramente mais forte. Em parte, devido à enorme renovação que sofreu. Em parte, em função de uma liderança mais hábil e propositiva.
Nesta ascensão da força do Congresso, também há a ajuda do Presidente, tanto por sua qualidade como por sua deficiência. Se de um lado cumpriu a promessa de encerrar o toma lá, dá cá, do outro, permitiu que sua inexperiência no Executivo esvaziasse parcialmente a tinta de sua caneta. De qualquer forma, ao contrário do que muitos acreditavam, a relação entre os Poderes há muito não se fazia tão equilibrada e republicana.
Até aqui, a nuvem que traz a ideia de que Lula é um preso político ainda continua pairando. Entretanto ela só se manterá se uma determinada condição for atendida. Uma única, específica e pontual condição. Aquela que sustenta que todos os desembargadores e ministros das três instâncias que votaram, quase que por unanimidade, pela ratificação da decisão de Sérgio Moro são agentes da CIA. Fora esta condição, Lula não é um preso político, é apenas um político preso.
Quanto a alguma comoção que o caso ainda promove no exterior pela soltura do ilustre preso, justifica-se por dois motivos. Um deles é que grande parte deste apelo vem da esquerda estrangeira. Seria impensável que aqueles que defendem o atraso lá, também não defendessem o atraso aqui.
O outro motivo reside no desconhecimento deles do que se passa em nossas terras. Pudera! Afinal, depois das Olimpíadas, definitivamente aprenderam que Buenos Aires não é mais a capital do Brasil. Agora já sabem que é o Rio. A partir desta profunda imersão sobre a nossa realidade, é fácil entender o romantismo com que ainda veem aquele torneiro mecânico que se tornou Presidente. Car wash, what’s it?
A intolerância é mais do que a dificuldade para compreender quem pensa diferente. É a derrota da razão e a vitória da ignorância. A eleição já acabou e é preciso notificar o pessoal da Esquerda e da Direita deste acontecimento. E o Presidente também deve ser avisado de que a Nação é composta por todos os que votaram, tanto a favor quanto contra.
O respeito não tem lado. Denominações como Bozo, bolsominions, coxinhas e mortadelas não mais se aplicam, se é que já se justificaram. Se a Direita está agora no poder, há que se aceitar, porque foi democraticamente eleita. Difícil entender como não percebem que a alternância de poder é tão essencial para a preservação de uma Democracia vibrante!
O grande João Gilberto encantou o mundo com a música “Chega de Saudade”, marcando o início da brasileiríssima Bossa Nova. Para compô-la, não se sabe em quem Tom e Vinicius inspiraram-se. Mas de qualquer forma, poderíamos cantarolá-la na vã esperança de que, sensibilizada pela beleza e pela força de seus versos, retornasse e a nós novamente se juntasse. Sem ela, as análises robotizam-se, a irracionalidade cria raízes e a tolice alastra-se. Definitivamente não há plano B. Volte Sensatez, volte!
- Todo domingo à noite um novo artigo. Acesse a homepage digitando “aonde vamos sociedade”.
Ricardo!
Excelente texto!
Parabéns, mais uma vez!